Hoje eu estou aqui para postar um tutorial de afinação que eu mesmo fiz, o meu método.
Não gosto muito de usar abafamento nos tambores, pois, pra ser sincero, acho que deixa o som um tanto feio, então esse tutorial é pra quem deseja um som bom porém sem abafamento algum.
O que influência no som de um tambor?
Vamos começar falando um pouco do que influencia no som de um tambor.
Diâmetro
Diâmetro nada mais é do que o tamanho da circunferência do tambor, quanto menor o diâmetro, mais agudo o tambor será, quanto maior, mais grave.
Profundidade
Profundidade é a altura do tambor, quanto menor a profundidade, mais estalado ele será, quanto maior a profundidade, mais cheio e ressonante será o som. Junto com o diâmetro, é a característica que mais influencia no som do tambor.
Madeira
A madeira também influencia muito no som de um tambor, madeiras diferentes produzem sons diferentes.
As madeiras mais comuns são o Maple, que produz um som grave, cheio e ressonante, e o Birch, que produz um som mais agudo e controlado.
Existe uma infinidade de madeiras diferentes, no próximo post abordarei um pouco melhor esse assunto, por enquanto vou apenas citar algumas madeiras muito usadas na fabricação de baterias, além do Maple e do Birch: African Mahogany (Mogno Africano), Bubinga, Oak (Carvalho), Eucalipto, Mahogany (Mogno), Basswood, Poplar, e as madeiras brasileiras, como o Marfim, Bapeva, Tauari, Cedro, Araucária, etc.
Lembrando que tambores não precisam necessariamente serem feitos de madeira, podem ser de Acrílico, metal, entre outros materiais. E assim como a madeira, esses materiais diferentes produzem sons diferentes.
Bordas
As bordas dos tambores também influenciam bastante no som que ele vai ter, as bordas normalmente tem uma inclinação de 45º, deixando-as um pouco mais afiadas, mas podem ter diferentes inclinações, como 30º ou até bordas arredondadas, que produzirão um grave mais potente.
Peles
As peles são aqueles filmes que ficam em cima do tambor, sem elas, não haveria bateria.
Antigamente usavam peles de animais, de couro, tratadas adequadamente, etc.
Nas décadas de 1950 e 1960, uma empresa inovou ao lançar peles sintéticas, a empresa se chama Remo e é uma das, se não a mais famosa marca de peles de bateria.
Desde então, as peles sintéticas se tornaram as mais usadas pelos bateristas, tanto por serem ecologicamente corretas quanto por produzirem um ótimo som, quando afinadas corretamente.
Existe uma infinidade de peles diferentes atualmente, vou falar um pouco delas aqui.
Existem peles de filme simples ou filme duplo, podendo ser peles Clear (transparentes) ou Coated (Porosas).
As peles de filme simples são aquelas que possuem apenas um filme prensado no aro de metal, são peles mais versáteis, produzem um som mais aberto e com mais harmônicos.
Já as peles de filme duplo são aquelas que, obviamente, possuem dois filmes prensados no aro de metal. Essas peles produzem sons com menos harmônicos, mais secos e graves.
As peles Clear são peles transparentes, produzem um som mais grave e mais seco.
As peles Coated são aquelas peles brancas que sentimos que são ásperas quando passamos a mão sobre elas. Essas peles produzem sons com mais harmônicos, sons mais vivos e brilhantes.
Particularmente, prefiro peles Coated pois elas produzem um som mais orgânico e vivo, o que eu gosto muito.
Existe uma grande variedade de peles, peles com anéis abafadores, peles com bolas no meio para cortar os harmônicos, etc.
Como é um assunto um tanto complicado, em outro post falarei mais sobre isso.
Aros
Os aros são muito importantes, quanto mais denso o aro, menos harmônicos o tambor terá, portanto, soará menos. E quanto menos denso o aro, mais harmônicos, portanto o tambor soará mais.
Existem muitos tipos de aro, os mais comuns são os seguintes:
Standard Hoops (1,6mm), produzem um som mais aberto e ressonante.
Power Hoops (2,3mm), produzem um som um pouco mais seco, um meio termo entre os Die-Cast Hoops e os Standard Hoops.
Não colocarei fotos desses aros pois eles são exatamente iguais aos Standard Hoops, apenas um pouco mais grossos.
Die-Cast Hoops (Aros fundidos), são um dos aros mais densos e pesados existentes, produzem um som mais seco, com poucos harmônicos, etc.
Wood Hoops (Aros de Madeira), são aros bem grossos, que realçam as freqüências graves dos tambores e deixam os tambores mais controlados, com um som mais orgânico. São usados normalmente em caixas.
Esteira
Caso o tambor que você estiver afinando for uma caixa, ela terá esteira, e a esteira influencia no som da caixa.
Quanto menos fios a esteira tiver, mais som de tambor a caixa terá, ou seja, mais harmônicos e menos definição nas notas.
Quanto mais fios a esteira tiver, mais som de esteira a caixa terá, ou seja, menos harmônicos e mais definição nas notas.
Entendendo o timbre do tambor.
Bom, essa é a etapa fundamental na afinação de um tambor.
Vamos usar como base um kit com bumbo de 22x16”, um tom de 12x9”, um surdo de 14x14” e uma caixa de 14x5,5”.
Há certos limites para o timbre de um tambor, se ele tem um determinado timbre, mesmo que você afine de um jeito diferente, ele não terá um timbre muito diferente.
Por exemplo, o tom de 12x9” desse kit que estamos usando como base, não importa o quanto você aperte as peles, ele nunca vai soar como um tom de 8”, não i
mporta qual pele esteja usando, quais aros, madeira, etc.
Da mesma forma, o tom não vai soar como um surdo de 16”, você pode usar qualquer pele, mas ele não vai soar como um surdo de 16”.
Ou seja, temos que respeitar os limites dos tambores, se é um tom de 12x9”, ele tem que soar como um tom de 12x9”.
Se entenderam isso, vamos começar a afinar.
Afinando os tons.
Bom, agora vamos começar a afinar os tons.
Entre os tons e os surdos, é o mesmo procedimento de afinação, nenhum dos dois precisa de nenhuma atenção especial.
Primeiro, você deve sempre afinar os tambores em cruz, ou seja, cruzando o tambor.
Aqui vai uma imagem com as ordens de afinação, conforme a quantidade
de canoas do tambor:
Se seus tambores tem 5 afinações, afine de um jeito que forme a imagem de uma estrela, se você estivesse ligando linhas.
Agora começaremos a afinar.
Primeiro coloque as peles de resposta e batedeira, depois coloque os aro
s e aperte com as mãos o máximo que conseguir, então vamos começar a afinar.
Lembrando que a pele batedeira vai dar a definição, o punch e o ataque do tambor e a pele de resposta vai dar o tom e a ressonância.
Coloque o tom sobre uma superfície acarpetada, com o aro da pele batedeira sobre o
chão, vamos começar afinando a pele de resposta.
Vá dando toques com a baqueta no centro da pele, enquanto aperta meia volta cada parafuso, lembrando sempre da sequência de afinação cruzada.
Preste bem atenção no som que o tambor está fazendo quando você toca,
quando ele começar a ressonar, pare de apertar os parafusos.
Tenha em mente que quanto mais solta a pele de resposta, mais grave ficará o tambor, e quanto mais apertada, mais agudo o tambor ficará.
Então se quiser um som gordo e grave, deixe a pele de resposta com a afina
ção mais baixa possível, mas ressonando.
Mesma coisa se você quiser um som mais agudo, apenas aperte ma
is os parafusos, deixando numa afinação mais alta.
Uma vez que você chegou ao tom desejado, é hora de equalizar a afinação da pele
de resposta.
“Equalizar? Como assim?” você deve ter pensado.
Bom, você simplismente vai igualar a afinação de todo o tambor,
se você tocar com a baqueta perto dos parafusos, perceberá que o som é diferente em cada um deles, o que nós faremos a seguir é deixar todos os parafusos com um som igual.
Bom, comece tocando na pele, a 1 ou 2cm dos parafusos, sempre em frente a eles, então vá igualando a afinação deles, subindo ou descendo a afinação.
Uma técnica bem útil é a afinação oposta, ou seja, se você quer mudar o tom de um
parafuso mas não consegue nada apertando esse parafuso em particular, aperte o parafuso oposto a ele, a afinação dele subirá.
Bom, depois da equalização, a pele de resposta está afinada.
Após afinar a pele de resposta, afinaremos a pele batedeira, c
omo
dito anteriormente, a pele batedeira dá o punch e o ataque do tambor, então se quiser um som mais gordo, cheio e ressonante, use ela numa afinação mais alta. Se quiser um som mais seco e comprimido, use ela numa afinação baixa, você fará basicamente a mesma coisa que fez na pele de resposta, com apenas esse detalhe adicional.
Afinando o bumbo.
Bom, o bumbo é, provavelmente, o tambor mais fácil de afinar, na bateria inteira.
Muitas pessoas acham que o bumbo só está ali como suporte de tons, portanto, não o afinam corretamente, apenas colocando as peles, apertando um pouco e entupindo-o de travesseiros e cobertores, impedindo-o de ressonar.
Mas todos os tambores tem que ressonar, tem que ter harmônicos, pois o h
armônico é o que dá vida ao tambor, é o que faz o tambor ter som, e muitas pessoas não acham isso.
O bumbo, como também é um tambor, precisa ressonar, então vamos começar afinando ele.
Bumbos com pele de resposta furada vão ressonar menos do que bu
mbos com pele de resposta fechada, pois o ar que é movimentado quando o tocamos, quando a pele é fechada, continua a se movimentar dentro dele, já quando o bumbo tem um furo na pele de resposta, o ar sai e não se movimenta tanto quanto como num bumbo com pele de resposta fechada.
Agora vamos começar a afinar, em sumo, é o mesmo procedimen
to que se faz nos surdos, com apenas alguns detalhes a mais.
Vamos começar, coloque as duas peles e aperte com os dedos até onde conseguir, então coloque o bumbo com a pele de resposta virada pra baixo, com o aro encostando no chão.
Prefiro começar pela pele batedeira no bumbo, pois o bumbo res
soa menos que os outros tambores, logo, o punch e o ataque dele são mais importantes.
Aperte os parafusos, sempre batendo na pele, até o bumbo começar a ressonar.
Então, com as duas mãos fechadas, ponha as mãos no centro da pele e aperte, forçando-a pra baixo, se ouvir estalos, etc. isso é tudo normal, não precisa
entrar em pânico.
Depois de fazer isso, a pele vai estar mais solta, aperte-a de novo, até ela estar ressonando novamente, então repita o processo que fez nos tons e surdos, tente tirar da pele o som mais comprimido, seco e grave o possível, mas sem impedi
r que ele ressone.
Feito isso, vamos a pele de resposta, que vai dar a ressonância do bumbo, repita o processo que fez nos tons e surdos, depois monte o bumbo e vá fazendo um ajuste fino, tocando com o pedal, observando cada mudança, apertando e soltando os parafusos, com a pele de resposta, peça para alguém te ajudar.
Quando chegar num som que te agrade, apenas equalize a afinação e deixe o bumbo daquele jeito.
Se quiser abafar com um travesseiro dentro do bumbo, abafe, pois o bumbo fica meio indomável quando está vazio, fica muito ressonante, etc.
E isso não é muito bom para quem toca metal e outros ritmos, que precisam de bastante definição no bumbo, então, se precisar, abafe.
Afinando a caixa.
Agora é a vez da caixa, o tambor mais complicado de se afinar, pois a caixa é a identidade do baterista, cada baterista gosta da caixa de um jeito, é muito pessoal.
A caixa é o tambor mais usado na bateria inteira, então ela tem que estar sempre 100%.
Outra coisa é que, bumbo e caixa são os tambores mais usados no kit, então devem meio que “combinar”, ou seja, se você usa um bumbo agudo e ressonante, é ideal que você use uma caixa aguda e ressonante, também.
Mas não há regras, use de acordo com seu gosto.
Enfim, o mesmo princípio de afinação dos outros tambores é aplicado a caixa, pois a caixa é um tambor, e tambores são feitos pra ressonar, certo?
Porém a caixa tem um complicador, a esteira.
A esteira é aquela coisa cheia de fios que parecem pequenas correntes, sem a esteira, a caixa seria apenas mais um tom.
Bom, vamos começar retirando a esteira e as peles da caixa, então repita o mesmo processo dos tons, pois sem esteira, afinaremos a caixa como um tom, não como uma caixa, afinal, sem esteira ela é apenas um tom raso.
Começaremos pela pele de resposta, se quiser a caixa mais grave, use uma afinação mais baixa na resposta, se quiser ela mais aguda, use uma afinação mais alta.
Ah, lembre-se que quanto mais esticada a pele de resposta, mais sensível será o som de esteira.
Depois de afinar a pele de resposta, equalizar a afinação, etc. vamos para a pele batedeira.
Para um som mais grave e ressonante, use uma afinação mais baixa, para um som mais agudo e comprimido, use uma afinação mais alta.
Depois de equalizar a afinação da caixa, vamos colocar a esteira.
Centralize a esteira na pele de resposta, solte o tensionador do automático o maximo possível, agora prensa a esteira, não muito apertado, mas também não muito solta.
Então vá apertando o tensionador, lembrando que quanto mais solta a esteira, mais suave e cheio será o som e quanto mais apertada, mais estalado será o som.
Após colocar a esteira devidamente na caixa, acabou, a bateria está completamente afinada e pronta para tocar.
Abafar ou não?
Abafar ou não, essa é uma duvida muito comum, se não conseguir remover aqueles harmônicos indesejáveis só com afinação, então pode abafar, mas use no máximo um feltro colado a borda da pele em formato de sanfona, ou um moongel, se você tiver dinheiro, haha.
Bom galera...
Espero que tenham curtido o tutorial e que suas bateras fiquem bem afinadas!
Abraços, keep drummin'!
3 comentários:
Muito útil cara. Parabéns.
Valeu a dica! Foi muito útil!
muito boa a explicação nota 10
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